Retomando a nossa série sobre a cirurgia para obesidade, hoje o Roger Mathias vai falar de como são feitas as cirurgias, quais as diferenças entre as técnicas restritivas e dissabsortivas, ou seja, o que efetivamente o cirurgião faz no corpo da pessoa que passa por essa cirurgia. No próximo capítulo ele vai falar de como essas operações além de combaterem a obesidade também melhoram a pressão arterial e a diabetes, melhorando a saúde do obeso de maneira global.
Se você tem indicação para essas cirurgias, conhece alguém que fez ou vai fazer, ou é só curiosa mesmo. Aproveite esse espaço para tirar as suas dúvidas! Entra lá embaixo nos comentários e abra o seu coração!
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Vista por muitos como uma forma preguiçosa de dar vazão à vaidade, a cirurgia tem revelado efeitos importantes além do emagrecimento, como curar o diabetes tipo 2 e reduzir a propensão ao câncer.
Como foi dito no texto anterior, a cirurgia bariátrica é a opção de tratamento mais eficaz para obesos mórbido, quando houve falha das terapias não cirúrgicas. Recomenda-se operar pessoas com IMC (peso emkilos dividido pela altura em metros ao quadrado) maior que 40 ou pessoas com IMC entre 35 e 40 que apresentem complicações como apnéia do sono, hipertensão arterial, diabetes.
É fundamental que o paciente participe de grupos de orientação pré-operatória, onde receberá apoio nutricional, psicológico, endocrinológico e físico. Assim, o paciente se compromete a perder peso antes da cirurgia. Estudos demonstram que os paciente que passaram por esse processo tem menos chance engordar novamente e apresentam menos complicações no pós-operatório.
Falaremos agora das variadas técnicas de “redução” de estômago. Tentarei fazer de um modo simplificado, de forma que facilite o entendimento. Cabe salientar que não há o intuído de esgotar ou aprofundar em demasia o assunto e a visita ao especialista é indispensável.
A abaixo ilustra a anatomia normal do aparelho digestivo humano. O alimento chega ao estômago pelo esôfago que segue, após um período, para a primeira porção do intestino delgado, o duodeno, a segunda e terceira porções são respectivamente o jejuno e o íleo. O bolo alimentar dirige-se então para o intestino grosso, onde serão formadas as fezes. É nessa trajetória que os alimentos sofrem digestão e os nutrientes são absorvidos. Quanto maior for esse seguimento, maior a absorção.
Outra coisa importante é que o estômago produz hormônio ligado à estimulação da fome (grelina) e o íleo (porção final do intestino delgado) produz hormônios que diminuem o apetite e estimulam a secreção de insulina (hormônio responsável por levar o açúcar do sangue para as células, diminuindo sua concentração no sangue).
Veja em verde o caminho normal do alimento no nosso corpo, em azul onde são produzido alguns hormônios
As cirurgia do tipo RESTRITIVAS, restringem a acomodação gástrica, por redução do estômago, com isso, o paciente tem saciedade precoce com os alimentos SÓLIDOS (mas não com alimentos líquidos, hipercalóricos, como leite-condensado…é brincadeira?).
A banda gástrica ajustável, veja na figura abaixo é um método restritivo puro, realizado por videolaparoscopia (cirurgia minimamente invasiva), no qual se coloca um anel de silicone na porção superior do estômago. Este anel é ligado a um dispositivo que fica implantado no subcutâneo (gordura da barriga) que pode ser facilmente acessado por uma agulha, por onde se injeta soro, ajustando o nível de constricção.
Em uma mulher que fique grávida, a constricção pode ser menor, permitindo à mãe comer e o bebê se desenvolver normalmente. A desvantagem, já comentada, é que o paciente pode voltar a engordar, ingerindo líquidos calóricos. Esse risco aumenta se o paciente não tiver orientações prévia pré-operatórias e acompanhamento rigoroso pós-operatório.
O desenho mostra a Banda Gástrica, uma das cirurgias de efeito restritivo.
As cirurgias DISABSORTIVAS promovem um desvio do trânsito intestinal, que leva a uma diminuição da absorção dos nutrientes ingeridos. Causa perda rápida e duradoura do peso, porém pode levar o paciente à desnutrição e a carência de nutrientes essenciais, como vitaminas, demandando reposição com complexos vitamínicos.
As cirurgias MISTAS apresentam maior eficácia na perda de peso, por apresentarem ambos os elementos (restritivo e disabsortivo), porém exigem do paciente disciplina e readequação do seu estilo de vida.
Pequenas e numerosas refeições diárias, bem mastigadas, deverão ser instituídas, reposição vitamínica e acompanhamento multi-profissional. A cirurgia mais realizada dessa modalidade e com resultados comprovados por anos de experiência é a gastroenteroanastomose em Y-de-Roux (acalmem-se, não estou xingando ninguém) ou cirurgia de Fobi-Capella da uma olhada na figura abaixo que você vai ver que é menos complicado do que o nome sugere.
Nela o cirurgião separa o estômago em dois, a parte bem menor com cerca de 5% do volume total, mantém a função de receber o alimento. A porção maior permanece no abdômen mas só para produzir o suco gástrico que encontrará o bolo alimentar mais adiante no intestino – que fica um pouco mais curto. Ainda um anel de silicone pode ser colocado, limitando o fluxo de alimento no estômago reduzido.
O paciente que não adote as mudanças citadas sofre, pois vômitos são freqüentes. Além disso, pode acontecer queda de cabelo por deficiência protéica, aumenta o risco de pedras na vesícula e dificulta o diagnóstico de um eventual câncer no estômago, já que a parte que foi isolada não pode mais ser vista por endoscopia.
Esquema da cirurgia de Fobi-Capella umas das mais realizadas contra obesidade.
Há ainda numerosas outras técnicas de cirurgia anti-obesidade, sendo que o Brasil ocupa posição de destaque tanto na parte científica quanto na criação de novas técnicas. Cabe, porém citarmos uma última possibilidade que vem ganhando espaço rapidamente. Chama-se “sleeve” gástrico ou gastrectomia vertical abaixo.
A perda de peso se dá unicamente por restrição à quantidade de alimento ingerido, sem que haja desvio intestinal do transito ou má-absorção. O procedimento consiste em redução do estômago, pode ser por vídeo cirurgia, em 85% do seu volume, diferentemente dos 95% na cirurgia de Capella, diminuindo assim os sintomas de vômitos. O estômago fica em forma de “banana”, preservando o piloro (vávula que permite a passagem gradual do estômago para o intestino). Assim, o estômago funciona normalmente, apesar da redução de volume, podendo o paciente alimentar-se com quase todos os tipos de alimentos, porém em pequenas quantidades. Aqui, a porção estomacal que produz a grelina (hormônio ligado à fome) é eliminada.
Por não haver desvio de transito, anemia, osteoporose, deficiência protéica e vitamínica são praticamente eliminadas. A critica é que por não haver associado um componente mal-absortivo, o paciente tem mais chance de voltar a engordar mais tarde. Por isso, estudos de seguimento de longo prazo estão sendo realizados.
Esquema da cirurgia de sleeve gástrico.
A escolha da técnica cirúrgica deve ser tomada em conjunto com o paciente, levando-se em conta o estilo de vida e suas particularidades. Os benéficos que a cirurgia traz no combate ao diabetes, à hipertensão e à diminuição do risco de câncer, assim como suas implicações psicológicas e a reconstrução da estética corporal pela cirurgia plástica nos ex-obesos.
Por Roger Mathias.
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