Na semana passada o Roger Mathias escreveu o primeiro episódio sobre cirurgia bariátrica (anti-obesidade), explicando o que está levando o mundo a engordar. Nessa semana quem veio falar sobre cirurgia no Blog é o Marco Antônio, ele e o Roger vão se revesar para tratar dos procedimentos cirúrgicos que podem nos deixar mais bonitas.
O Marco Antonio vai começar falando sobre os procedimentos cirúrgicos que prometem deixar a nossa aparência mais jovem, e o primeiro tema escolhido por ele foi o Botox, nosso velho conhecido.
Aproveitem para perguntar para ele, nos coments, todas as dúvidas que vocês tem sobre esse que talvez seja o procedimento estético mais famoso do século até agora.
Divirtam-se
Renata
Quem nunca se flagrou observando atentamente aquela foto antiga na qual apresentava o belo rosto sem rugas da juventude? Não é recente a preocupação do ser humano em esconder – ou até mesmo lutar contra – a velhice e suas conseqüências, e a ciência tem buscado (e atendido!) cada vez mais este anseio de todos, principalmente, das mulheres. É fato que a indústria cosmética e a medicina apresentam, a cada dia, novas abordagens e estratégias antes inimagináveis de se lograr a beleza eterna.
Um assunto não muito recente ou inédito, mas que sempre levanta dúvidas, é o uso da toxina botulínica (BOTOX®) para a eliminação de rugas, principalmente faciais. Descoberta por um médico e poeta alemão, Justinus Kerner, no século XIX, essa toxina – produzida por uma bactéria chamada Clostridium botulinum – foi responsável por um grande número de envenenamentos decorrentes da ingestão de salsichas contaminadas, em virtude do declínio nas medidas de higiene durante sua produção e manejo, no período das guerras napoleônicas. A palavra botulismo vem do Latim botulus, que quer dizer salsicha. Durante sua observação, Kerner deduziu que a toxina atua interrompendo a transmissão entre os neurônios de movimento, preservando a sensibilidade (quem quiser saber mais sobre os mecanismos de ação do BOTOX®, pode conferir o post da Renata, clicando aqui.).
A conseqüente introdução desta toxina na medicina não tardou em fazer parte de experimentos científicos, desde que administrada em quantidades não prejudiciais. Atualmente, é utilizada para o tratamento de várias doenças, como estrabismo (olho vesgo), espasmo facial, distonias focais (grupo de doenças caracterizado por espasmos musculares involuntários que produzem movimentos e posturas anormais, também conhecidos como tiques), espasticidade, tremor, hiper-hidrose (suor excessivo) e disfunção esfincteriana (pessoas que têm dificuldade em controlar a urina ou as fezes).
O uso cosmético do BOTOX®
Envelhecer está associado ao desenvolvimento de linhas de expressão e rugas causadas pelo sol, pelo efeito gravitacional, pelas famosas “sleep lines” (ou rugas de expressão decorrentes do hábito de dormir), e pela ação muscular. Algo que muito comumente acontece é a hipertrofia da musculatura mímica da face com o passar dos anos, acarretando em músculos hiperfuncionantes (a gente fala tanto e se expressa tanto que faz uma espécie de musculação no rosto).
As injeções de BOTOX® reduzem as linhas faciais causadas por este tipo de músculo e também são usadas para desenhar contornos de elementos da face, como as sobrancelhas. No próximo post sobre este assunto, será possível conferir algumas características dos procedimentos realizados, de acordo com a região anatômica (face ou pescoço). Mas antes, vale ressaltar algumas considerações importantes sobre sua aplicação.
As técnicas de injeção variam de acordo com o praticante e com o avanço do método. Os pacientes normalmente notam os primeiros efeitos clínicos um a três dias após a injeção, sendo máximo por volta de uma a duas semanas. Isso é importante falar já que muita gente acha que o efeito é instantâneo e quer marca sessão de BOTOX® para véspera de eventos importantes, o que não é recomendado. Efeitos adversos incluem pequenas equimoses (manchas roxas) e contusões (pequenas lesões nos músculos). Quando não contra-indicado, os pacientes devem evitar medicamentos inibidores de plaquetas, incluindo aspirina e antiinflamatórios não esteroidais, por sete a 14 dias antes da aplicação, isso porque esses medicamentos aumentam a chance de ocorrer sangramentos. Os benefícios geralmente duram cerca de três a seis meses.
As contra-indicações à aplicação de BOTOX® incluem reação alérgica anterior, injeção em áreas de infecção e/ou inflamação, gravidez (fármaco da categoria C – segurança para uso durante a gravidez não foi estabelecida), ou amamentação.
Algumas complicações podem ocorrer decorrentes do uso de BOTOX®. Rações generalizadas são incomuns, geralmente brandas e transientes. Incluem náusea, fadiga, indisposição e sintomas de gripe; inchaço, vermelhidão, manchas roxas, dor de cabeça e aumento de sensibilidade também podem ocorrer. O efeito adverso significante mais comum é fraqueza, que, felizmente, se resolve em alguns meses ou até semanas (em alguns pacientes), dependendo do local e da quantidade de unidades injetada. (Portanto, atores, políticos e todos aqueles que dependem da expressão facial para ganhar o pão nosso de cada dia, atenção!).
A ptose palpebral, que é a queda da pálpebra, deixando o olho entreaberto, pode ocorrer por migração da toxina aplicada próxima a essa região. Por esse motivo, os pacientes são geralmente instruídos a permanecerem de pé por três a quatro horas após a aplicação e não manipular a área. Algumas aplicações em locais específicos da região do pescoço podem resultar em dificuldade para engolir, também por migração da toxina, durando somente alguns dias ou semanas – nesses casos, há indicação de dieta leve.
Há casos em que o paciente não responde ao tratamento. Isso acontece por várias causas em potencial, mas podemos destacar a técnica inadequada de aplicação ou toxina desnaturada. Não menos importante, cabe destacar pacientes que possuem anticorpos adquiridos em exposições prévias subclínicas, ou seja, aquelas nas quais se tem contato com a toxina, em quantidade não suficiente para manifestar sintomas. Tais anticorpos podem também ser adquiridos durante a primeira aplicação da toxina visando à eliminação de rugas. Nesses casos, o paciente apresenta uma pequena melhora clínica da expressão facial, mas de efeito temporário, rapidamente voltando a apresentar as rugas (é como se ele tivesse tomado uma vacina contra a toxina do BOTOX®).
É importante dizer ainda que a aplicação de BOTOX® é um procedimento médico e deve ser realizado por profissional habilitado e dentro das condições e adequações necessárias. Portanto, certifique-se sobre a formação e capacitação do médico, bem como sua experiência, e sobre a procedência da toxina a ser utilizada.
Mas, calma! Não há motivos para pânico. O tratamento com BOTOX® tem trazido resultados excelentes e seu uso está cada vez mais disseminado no meio médico. Quando injetado em pequenas quantidades na face e nos músculos do pescoço, pode melhorar a aparência das linhas faciais e a bandas do platisma (principal músculo do pescoço) por vários meses. Mesmo sabendo-se dos efeitos adversos e das possíveis complicações, os benefícios clínicos deste tratamento são extremamente gratificantes e, literalmente, “estão na cara”.
Por: Marco Antonio Bastamante Lima